Sou daqueles que frequentava o
Maracanã nos dias de grandes clássicos. Já presenciei um público
de 193 mil pessoas, em um domingo à tarde, onde enfrentavam-se o
Vasco e o Flamengo. Lembro-me bem das arquibancadas de concreto liso
e da geral, um pouco mais abaixo, locais onde podia pagar o ingresso.
Levava uma almofada, ou comprava-a nos arredores do estádio, para
sentar na arquibancada. Na geral as pessoas ficavam o tempo todo em
pé. Quem frequentava a arquibancada era conhecido como “arquibaldo”,
e a geral, “geraldino”, conforme apelidou o jornalista Washington
Rodrigues.
Chegava sempre por volta das 2 horas da tarde,
pois o jogo começava às 5 horas. Gostava de ver o Maraca ir enchendo aos poucos. Assistia a preliminar, geralmente um jogo entre
juniores, enquanto, de relance, via o desfile das torcidas
organizadas, entrando juntas desfraldando às suas lindas bandeiras.
Embaixo, na geral, havia gente de todo tipo, branco, preto, amarelo,
pobre, favelado, classe média; menos o rico, que preferia as
cadeiras azuis ou a tribuna de honra. Na geral, sempre havia alguém
fantasiado, desfilando, brincando... e de vez em quando tinha
arrastão, que logo acabava, após a intervenção dos policiais. Os
“arquibaldos” e “geraldinos”, nos dias de jogos, “caçavam
as bruxas” da semana, botavam pra fora todas as suas frustrações
e angústias, era melhor do que uma psicanálise. Ou seja, era
tipicamente uma festa popular, bem social, em plena ditadura militar.
Naquela época, o povão fazia parte do espetáculo.
Existiam problemas também, como, os
banheiros imundos e a urina espalhada pela parte de cima, por onde os
“arquibaldos” saíam, ao final dos jogos.
Hoje, a geral não existe mais, as
arquibancadas transformaram-se em cadeiras retráteis, e o povo,
impedido de participar do espetáculo; pois, que trabalhador,
carioca ou fluminense, conseguirá pagar um ingresso nesta Copa? Ou, no campeonato Carioca, brasileiro... dos anos
vindouros?
Talvez consiga, por meio dos vários
concursos que as grandes empresas, que acompanham a FIFA, realizarão,
pois, só assim o pobre trabalhador conseguirá assistir, no estádio,
a uma partida de futebol.
O Maracanã de outrora era de
concreto, foi construído em tempo recorde, pouco mais de um ano, e
durou 60 anos. O de hoje, custou muito mais, parece um circo, mas sem
o povão, que faz o papel de palhaço, nesta “rica” história;
pois, foi com o seu dinheiro que o estádio foi reconstruído
financiando, sem saber, a sua exclusão daquele que era o nosso maior
orgulho como brasileiro, o que era o “maior do mundo”, onde a
seleção apresentava o melhor futebol do mundo.